Entenda o futuro do monotrilho de Poços de Caldas


30/08/2023 - G1 Sul de Minas

Por Júlia Reis

Inaugurado na década de 1980, o equipamento prometia transformar a mobilidade urbana de Poços de Caldas (MG). Entretanto, projeto ainda segue sem definições.


Entenda o futuro do monotrilho e o que impede uso de 'trem futurístico' em Poços de Caldas

Demolido, terceirizado ou continua parado? Muito se questiona sobre o futuro do monotrilho de Poços de Caldas (MG). Estacionado há mais de duas décadas após a estreia, ele foi inaugurado como uma promessa de transformação da mobilidade urbana.

Da concepção, em 1981, até os dias atuais, a iniciativa já enfrentou uma série de desafios que têm dificultado a reativação e ainda colocam em questão a viabilidade do “trem futurístico”. Mas afinal de contas, o que ainda impede o retorno do monotrilho?

Monotrilho de Poços de Caldas (MG) — Foto: Júlia Reis/g1

Comparado com o trem da Disney, imaginado como uma pista de caminhada elevada e até sonhado como um meio de transporte turístico, o monotrilho parecia uma solução inovadora. Porém, mesmo após tantos anos, ainda há obstáculos para a reativação do trem.

Os testes com passageiros começaram nos anos 2000. Após a inauguração oficial, o trem descarrilou em uma curva e 19 pessoas precisaram ser resgatadas pelo Corpo de Bombeiros.

O monotrilho funcionou poucas vezes até que foi suspenso definitivamente em 2003, quando duas pilastras, que ficam ao longo da Avenida João Pinheiro, caíram e derrubaram cerca de 50 metros da estrutura.


Monotrilho da Disney (à esquerda) e monotrilho de Poços de Caldas (à direita) — Foto: Disney e Júlia Reis/g1

Um dos últimos capítulos da “novela” foi em 2019, quando a empresa responsável pelo projeto, J. Ferreira Ltda, abdicou do contrato de concessão do monotrilho, entregando a obra nas mãos da Prefeitura de Poços de Caldas.

Desde então, a administração municipal solicitou avaliações técnicas para entender a viabilidade e as condições da estrutura, e também tem procurado por empresas com especialidade para tocar o projeto.

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Condições do monotrilho

Em 2020, a pandemia de Covid-19 acrescentou uma nova camada de complexidade à situação. Prazos foram recalculados, planos reavaliados e a incerteza pairou mais uma vez sobre o projeto. Neste período, inspeções visuais periódicas foram feitas na estrutura do trem para verificar possíveis anormalidades.

Monotrilho de Poços de Caldas (MG) — Foto: Júlia Reis/g1

Em novembro de 2021, um laudo de vistoria técnica da Prefeitura de Poços de Caldas concluiu que alguns danos na estrutura foram causados por pouca manutenção durante todo tempo de construção. A limpeza do local, além da retirada de árvores e vegetação também foram sugeridas.

Meses depois, em junho de 2022, o Ministério Público esteve na cidade para avaliar possíveis riscos de desabamento e analisar as manutenções feitas pelo município. O documento destacou existir fissuras e deterioração em trechos do projeto e que, se não fossem feitas manutenções adequadas, poderiam acarretar um colapso estrutural.

Ainda conforme trecho do laudo, “não houve manutenção adequada pela municipalidade na estrutura do monotrilho, sendo praticamente inexistente, na verdade, há um estado de abandono em sua maior parte, exceto nas extremidades”. A descoberta lançou dúvidas adicionais sobre a segurança e a possibilidade de reativação.

Monotrilho de Poços de Caldas (MG) — Foto: Júlia Reis/g1

Tratativas atuais

g1 conversou com o prefeito Sérgio Azevedo (PSDB) para entender as tratativas atuais quanto ao monotrilho. Os mais recentes “capítulos da saga” envolvem a questão da limpeza do local e o futuro do projeto.

Em março deste ano, uma licitação foi anunciada para contratar uma empresa que pudesse cumprir o trabalho. O documento, no entanto, foi revogado três meses depois, quando a prefeitura passou a usar recursos próprios para limpeza do local.

Segundo o prefeito, a licitação foi feita, pois havia expectativas sendo negociadas com uma empresa e o monotrilho precisaria ser “embelezado”. Contudo, a proposta não deu certo.

“Como acabou não dando certo com essa empresa e a gente está voltando a pesquisar outras, nós ganhamos tempo. Ou perdemos tempo, né? Porque poderia estar acontecendo. Mas agora a gente tem tempo. Então, nós estamos fazendo com nossos próprios funcionários. O mesmo serviço que faria de uma forma mais rápida, nós vamos fazer de uma forma mais lenta”, informou.

Monotrilho de Poços de Caldas (MG) — Foto: Júlia Reis/g1

Desde o fim de junho a limpeza do monotrilho tem sido feita pela equipe da Secretaria de Obras, junto a revitalização da Avenida João Pinheiro e a chegada da Alameda Poços.

Além disso, árvores foram cortadas no decorrer da avenida, medida sugerida para a limpeza e conservação do local. Sobre isso, o prefeito garante não ter relação com o monotrilho, e sim, ser uma questão de segurança e mobilidade urbana.

“As árvores são um problema de segurança mesmo. [...] A Avenida João Pinheiro era um local que ninguém nem caminhava. [...] Não tinha a menor mobilidade urbana. Chovia, caía árvore nos carros. Quase matou pessoas já. Então, a gente teve que fazer um novo projeto paisagístico, mais adequado. As árvores que tinham ali não eram adequadas”, comenta.


Quanto ao prazo para finalizar a limpeza do local, o prefeito adianta não ser uma preocupação a princípio. “Não adianta eu querer isso aqui em 60 dias, se ele não vai funcionar em 60 dias. Então, isso é o que menos importa. O que importa é que o serviço não pare”, afirma.

Monotrilho de Poços de Caldas (MG) — Foto: Júlia Reis/g1

Próximos passos

Nesta primeira etapa, buscas têm sido feitas para encontrar uma empresa especializada que consiga colocar o equipamento para funcionar em segurança. Segundo a gestão municipal, este é o maior desafio do momento.

“É o que a gente tem tentado desde então, modelar alguma forma que ele possa voltar a funcionar. Muitos moradores, às vezes, pensam e falam que tem que demolir. Mas é uma situação que a pessoa pensa isso porque ele nunca funcionou. Então, logicamente, o cidadão fica com o entendimento de que é uma coisa ruim, porque não funcionou”.

Para este ano, a gestão estima descobrir qual será o uso dado ao monotrilho. O prefeito ainda afirma que está em contato com empresas interessadas em dar destinação ao equipamento, seja para transporte urbano – entre pontos da cidade – ou até mesmo para fins turísticos.

Monotrilho de Poços de Caldas (MG) — Foto: Júlia Reis/g1

“A gente precisa achar uma empresa que realmente execute o trabalho e faça ele funcionar. [...] Tem que ser uma empresa que tem ‘expertise’ para isso, para ele funcionar com segurança. A gente quer que seja moderno, que seja movido a eletricidade gerada pelo sol. Vai ser uma coisa com custo praticamente zero”, afirma.

Depois de encontrar a empresa ideal, a segunda etapa seria uma concessão. Conforme o prefeito, deve acontecer da mesma forma em que foi feita na área turística da cidade, em que pontos turísticos foram terceirizados em março deste ano.

“Esse monotrilho nosso é igual o que tem na Disney. Ele foi até inspirado lá. E lá funciona muito bem. Por que aqui não funcionaria? Já está pronto. Falta pouca coisa para funcionar. Então, nós vamos esgotar todas as possibilidades de que ele possa vir a funcionar”, estima o prefeito.

A intenção é viabilizar o projeto antes do final de 2024. "Acho que até o final desse ano a gente define essa forma, para que o ano que vem a gente consiga realmente definir o funcionamento dele e como vai ser", completa.

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