18/05/2025 - O Hoje
Por Micael Silva
Sistema depende de repasses públicos que estão em risco; passageiros continuam a pagar R$ 4,30, mas modelo pode colapsa

Esse reajuste é resultado de uma revisão anual que considera custos operacionais como combustível, manutenção de frota, peças e reajustes salariais dos trabalhadores do setor Foto: Edinan Ferreira
A tarifa técnica do transporte coletivo de Goiânia e Região Metropolitana foi reajustada para R$ 12,51, conforme decisão publicada pela Agência Goiana de Regulação (AGR) no suplemento do Diário Oficial do Estado. O valor representa um aumento de 4,73% em relação à tarifa anterior, que era de R$ 11,94. No entanto, o preço pago pelo usuário segue congelado em R$ 4,30 por viagem, graças ao modelo de subsídio mantido pelos governos estadual e municipais.
Esse reajuste é resultado de uma revisão anual que considera custos operacionais como combustível, manutenção de frota, peças e reajustes salariais dos trabalhadores do setor. A AGR baseou sua decisão na Nota Técnica nº 14/2025/AGR/GERE, aprovada pelo Conselho Regulador.
O que é a tarifa técnica e como funciona o subsídio
A chamada “tarifa técnica” representa o valor real do custo por passageiro transportado e é usada para remunerar as empresas operadoras. Esse valor, superior ao pago na catraca, é compensado por meio de subsídios públicos. O sistema opera sob um modelo de complementação tarifária, no qual o montante é formado por três fontes: o que é pago pelo usuário, o valor correspondente a gratuidades (como meia-entrada e idosos) e o subsídio arcado pelo poder público.
Atualmente, o subsídio é dividido entre o Governo de Goiás e os municípios que integram o sistema. Goiânia e o Estado são responsáveis por 82,36% do total, sendo 41,18% para cada. O restante é custeado por cidades como Aparecida, Senador Canedo, Trindade e Goianira.
Segundo dados do Portal da Transparência, de janeiro de 2023 a março de 2025, o modelo consumiu cerca de R$ 914,8 milhões em complementação tarifária.
Crise financeira ameaça subsídio e meia-tarifa
Apesar do esforço conjunto para manter o valor acessível ao usuário, o modelo começa a dar sinais de desgaste. A inadimplência de prefeituras como Trindade e Goianira levou a Câmara Deliberativa do Transporte Coletivo (CDTC) a emitir alerta sobre a possível exclusão dessas cidades do programa da meia-tarifa, o que prejudicaria diretamente seus moradores.
Esses municípios alegam dificuldades financeiras para honrar os compromissos com o sistema, e em abril voltaram a atrasar repasses. A ameaça de retirada do subsídio pode encarecer o custo do transporte justamente para as populações mais vulneráveis, que dependem da meia-entrada para se deslocar diariamente.
Reação de Mabel expõe tensão entre prefeitura e Governo de Goiás
A decisão da AGR provocou reações imediatas entre os gestores municipais. Em coletiva realizada nesta sexta-feira (16), o prefeito de Goiânia, Sandro Mabel, se mostrou indignado com o reajuste. Ele afirmou que a Prefeitura não tem condições de absorver o novo valor da tarifa técnica, que saltou de R$ 9,89 em 2021 para os atuais R$ 12,51, um crescimento de 26,5% apenas desde o início de 2025.
“Recebi contrariado, contrariado. Nós vamos sentar, reunir, avaliar outra vez. Eu pedi para o meu pessoal: temos que recalcular. Como é que pode subir quase 3 reais essa tarifa técnica?”, declarou Mabel. “Nós não temos capacidade de pagamento disso. Ou o governo estadual vai ter que absorver, porque é ele quem comanda isso daí, ou então nós não temos muito o que fazer, porque ela é muito puxada. Não tem como absorver isso.”
O impasse reforça a tensão entre as administrações municipal e estadual quanto à sustentabilidade do modelo. A gestão de Mabel já enfrentava dificuldades no início do ano, quando a Prefeitura acumulava uma dívida de R$ 62 milhões com o sistema de transporte, pressionando ainda mais o orçamento da RedeMob, consórcio responsável pela operação do serviço.
Demanda cresce com renovação da frota
Mesmo com os desafios, a Companhia Metropolitana de Transportes Coletivos (CMTC) aponta avanços na operação. A entidade informa que o sistema voltou a registrar uma média de 500 mil usuários por dia, impulsionada pela renovação da frota, melhorias na oferta de linhas e estratégias para atrair os passageiros de volta após a pandemia e a crise de confiança no transporte público.
No entanto, a crescente demanda também impõe maior custo operacional, o que ajuda a justificar o reajuste técnico. Mais ônibus nas ruas significam mais quilômetros rodados, mais combustíveis e mais motoristas.
Futuro do transporte em debate
Com o aumento da tarifa técnica e a insatisfação de gestores municipais, o futuro do modelo de transporte coletivo na Região Metropolitana de Goiânia volta ao centro do debate público. A permanência da tarifa de R$ 4,30 depende de um delicado equilíbrio fiscal, ameaçado tanto pela elevação dos custos operacionais quanto pela fragilidade orçamentária dos municípios.
A Prefeitura agora busca alternativas junto ao Governo de Goiás para evitar o colapso do sistema. Caso não haja consenso sobre a divisão dos custos, os impactos podem ser sentidos diretamente pelos usuários, com risco de cortes em gratuidades, piora na qualidade do serviço ou até aumento do valor da passagem no médio prazo.
A discussão promete se intensificar nas próximas semanas, especialmente à medida que os compromissos financeiros do novo valor reajustado comecem a vencer.
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