Gestão Melo retoma ideia de Veículo Leve sobre Trilhos em Porto Alegre


28/07/2025 - Matinal

Por Tiago Medina


No Rio, VLT foi implantado há quase dez anos
Foto: CCR Rio


Estudo para avaliar possibilidade será lançado a partir do programa Centro+4D. Proposta de 2023 foi descartada pelo PAC

A prefeitura de Porto Alegre planeja lançar nas próximas semanas um edital para o estudo de implementação de um Veículo Leve sobre Trilhos (VLT). Ainda incipiente e sem traçado definido até o momento, o documento retoma uma iniciativa anunciada por Sebastião Melo (MDB) no começo do seu primeiro mandato.

Na semana passada, em evento ligado ao programa Centro+, o secretário de Planejamento e Gestão da capital, Cezar Schirmer, defendeu o VLT não somente no plano do transporte, mas também como um programa de revitalização de vias da cidade. “Eu defendo muito um VLT do aeroporto, passando pela Farrapos, pela rodoviária, até a Praça XV. Para depois ir até o Gasômetro”, disse.

Segundo ele, o trajeto de 6,8 quilômetros tem potencial para mudar o perfil da Farrapos. “As avenidas que convergem para o centro são decadentes, infelizmente”, afirmou o secretário, citando como exemplo a Voluntários da Pátria, a Osvaldo Aranha e a própria Farrapos.

Conforme a Secretaria de Planejamento e Gestão, a prefeitura chegou a cadastrar uma proposta para o desenvolvimento e implantação de um sistema de VLT pelo PAC Seleções – Mobilidade Urbana em 2023. Agora, por meio do programa Centro+4D, o município irá contratar um diagnóstico denominado “Estudo Setorial de Transporte”, necessário para que se desenvolvam iniciativas deste modelo e porte.

O estudo analisará as possibilidades de implementação, com base em um termo de referência, ainda em fase de elaboração. O estudo será contratado pelo programa Centro+4D, porém isso não significa que o eventual VLT limite-se apenas às regiões do Centro e dos bairros do 4º Distrito.

VLT e transporte como ferramenta de mudança urbana

À Matinal, o secretário Cezar Schirmer comentou que esteve recentemente no Porto, em Portugal, onde há VLT e um sistema integrado de transporte público, com metrô e ônibus, e conversou com a estatal de mobilidade local. “Perguntei à empresa que gere o transporte na cidade qual o significado do VLT na melhora do espaço urbano. Me falaram que aumentou em 30% o valor dos imóveis no entorno e houve um início de construção de moradias e ocupação de atividades econômicas. O transporte de qualidade melhora o espaço urbano e a vida das pessoas.

Neste mês, um levantamento do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) mostrou que a Região Metropolitana de Porto Alegre tem capacidade de ampliação de 93 quilômetros de rotas para o transporte público até o ano de 2054. O montante significa mais que os atuais 81 quilômetros, um aumento de 115%.

Para a Região Metropolitana da capital gaúcha, a ampliação da rede prevista neste documento é essencialmente para sistemas de VLT, monotrilhos ou BRT (Bus Rapid Transit). O BNDES projeta um ganho social relevante a partir do porcentual da população que reside em até um quilômetro de estações, hoje equivalente a 6%, mas com potencial de chegar 34,5% com o aumento estipulado.

VLT: boa alternativa, mas não única

Para Diego Buss, engenheiro civil e mestre em planejamento urbano e regional pela UFRGS, a iniciativa é bem-vinda. “O VLT tem um conforto e uma capacidade melhor aos usuários”, observou ele, que acredita que o eixo da avenida Ipiranga poderia ser uma boa localização ao modal. Buss, contudo, pontua que apenas o VLT não seria uma solução ao transporte público de Porto Alegre, que para ele passa por outras duas questões: a implementação do BRT e, essencialmente, a integração do transporte metropolitano – algo que não dependeria apenas da prefeitura.

Quanto ao BRT, as ações estão mais adiantadas – até mais do que o VLT –, pois Porto Alegre conta há décadas com pistas exclusivas para os ônibus. Ele vê a necessidade de garantir espaço para ultrapassagem dos ônibus, evitando a formação de comboios, além da operacionalização do pagamento da tarifa antes do passageiro ingressar no coletivo, o que também reduziria o tempo de parada. Além disso, a alteração do tempo das sinaleiras, priorizando os ônibus, aceleraria o modelo, tornando-o mais atrativo.

“É uma mudança de concepção”, afirmou ele, reiterando a importância de que os projetos sejam pensados a longo prazo. “Em Porto Alegre, a gente discute muitos projetos e não consegue avançar.” A capital chegou a ter obras visando a implementação do BRT antes da Copa do Mundo de 2014. No período pré-Mundial, até um metrô chegou a ser anunciado. As iniciativas, porém, não saíram do papel.

Para além das questões de engenharia, um redesenho do transporte metropolitano se faz essencial, na avaliação do especialista. E, conforme Buss, trata-se de um tema urgente: “Do jeito que está, vai chegar um momento que irá colapsar”, alertou ele, exemplificando a diferença de tarifas e formas de pagamento conforme as cidades da mesma região, desorganização que acaba por tornar o carro mais atrativo. “A integração metropolitana é difícil de fazer. Vai depender do governo estadual, das prefeituras e de todos os empresários do transporte público sentarem e chegarem a um acordo”, disse. “Todo mundo deveria tratar esse tema como prioridade.”
Técnicos do Banco Mundial debateram mobilidade da capital

Há duas semanas, Porto Alegre recebeu uma equipe do Banco Mundial, em apoio à implementação do Programa de Revitalização da Área Central (Centro+4D), que conta com 162 milhões de euros em recursos. Foi a segunda visita de técnicos do Banco Mundial neste ano – a primeira havia sido em janeiro. De acordo com a Secretaria de Gestão, o VLT não chegou a ser discutido especificamente, ainda que estudos a respeito sobre a mobilidade tenham entrado em pauta.

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